"Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar"
Nando Reis
Perto de um grande lago todas as tardes encontrava-se um senhor barbudo que permanecia em silêncio até o sol se por. O lago era um gigante de águas azuis e ao seu redor existiam plantas, flores coloridas e vários tipos de aves. E aquele senhor parecia fazer parte do cenário. Passavam meses e sempre que observassem ele estava lá, sentado no banco as margens do lago esperando o por do sol.
Certo dia uma criança com aproximadamente sete anos sentou no banco e extrovertidamente perguntou-lhe:
- Oi, o que você tá fazendo ai?
Ele sorriu para a criança e fez um gesto com a cabeça indicando o por do sol que se aproximara.
A criança, ainda sem desanimar continuou. - Como você se chama?
Pacientemente o senhor esperou pelo seu espetáculo díário e quando o sol se foi ele olhou para aquele menino e lhe disse.
- Meu nome é Josué, em seguida sorriu para a criança e se despediu.
No dia seguinte a rotina de Josué seguia até que apareceu a criança outra vez, sentou-se no banco e disse:
- Seu Josué, eu não disse o meu nome. Chamo-me Miguel e também gosto do por do sol. E ambos permaneceram sentados ali, em silêncio, esperando pelo espetáculo.
Os dias seguiram e agora já não se via apenas um senhor barbudo sentado no banco. Havia também um garoto franzino de olhos claros.
Juntos construíram uma amizade entre sabedoria e inocência.
Certo dia Miguel perguntou: - Josué o que mais você gosta quando espera pelo por do sol? eu gosto quando o céu vai ficando cor de laranja.
Josué respondeu: - Ah! venho me despedir do sol e agradecer por tê-lo visto mais uma vez. E não importa quantas vezes eu faça isso, porque me sinto em paz cada vez que faço.
As pessoas não compreendiam por que razão uma pessoa passava tanto tempo olhando o sol na companhia de uma criança. Talvez ele não tivesse o que fazer! Talvez fosse louco! Elas nunca entenderam.
Não importava, Miguel com apenas sete anos compreendeu que seu amigo sentava-se lá para encontrar a si mesmo, enquanto sorria com um simples por do sol. Já ele se divertia esperando pelo céu alaranjado. As pessoas em volta estavam apenas a "margem" de tudo isso.
Cada um pode escolher a margem para se encontrar, seja atravessando ou permanecendo. O que realmente vai importar é a forma de ver o por do sol. A "margem" fica aquele que simplesmente não consegue sorrir diante dele.